REVOLUÇÃO
Em 5 de Outubro de 1910 uma pseudo-revolução derrotou uma pseudo-monarquia para implantar uma pseudo-democracia sob forma pseudo-republicana. O que não ficou na mesma ficou pior, com talvez a excepção da área da educação. Noventa e sete anos depois não há nada para comemorar, mas talvez valha a pena reflectir sobre o tema da Revolução.
Revolução é uma ruptura institucional que se justifica quando a situação em vigor se mostra estruturalmente incapaz de resolver os problemas de um povo. Foi isso que legitimou a revolução francesa e a revolução russa, e é isso que voltará a legitimar uma revolução futura.
A questão que se põe é simplesmente esta: será de novo necessário fazer uma revolução? Dados os mecanismos democráticos em vigor um pouco por todo o lado haverá ainda necessidade de rupturas revolucionárias?
Se olharmos para o que se passa em todos os continentes vemos que a democracia política, onde ela chegou a existir, foi substituída por regimes oligárquicos dependentes do poder económico. O liberalismo económico fundamentalista e a globalização destruíram o equilíbrio que chegou por vezes a existir entre o capital e o trabalho, dando todos os trunfos ao factor capital. Onde os trabalhadores não aceitam continuar a ser sujeitos ao processo de desmantelamento das leis laborais, e a ser condenados à precariedade do trabalho, ao aumento das horas de trabalho e à contratação individual, o capital deslocaliza as empresas, levando-as para regiões onde os custos do trabalho são menores e a docilidade desesperada dos trabalhadores maior. Os sindicatos estão impotentes perante este fenómeno da deslocalização, e os trabalhadores parecem estar dispostos a tudo se sujeitarem para não perder o emprego.
O poder económico domina totalmente o poder político, fazendo eleger, à custa de euros ou dólares, apenas aqueles que se sujeitam ao diktat oligárquico. Os partidos burgueses - e muitos que dizem não o ser - são meras correias de transmissão desse poder oligárquico internacional. Seitas do tipo Grupo de Bilderberg ou Trilateral definem as linhas de conduta da internacional oligárquica. No topo da pirâmide, a oligarquia americana usa e abusa do poder militar para submeter aqueles que ainda escapam ao seu controlo.
As vias institucionais estão totalmente bloqueadas. Quem se opõe ao poder oligárquico é posto fora de jogo, quando não é perseguido e ameaçado de perder os meios de sustento. Resta apenas a via revolucionária, o derrube pela força, se tal for necessário, dos que impunemente oprimem os povos do mundo e destruem o seu habitat físico e social.
Na América Latina a revolução bolivariana pode constituir o primeiro passo numa revolução global. É necessário apoiar os povos onde essa revolução se está a desenvolver e aqueles - como na Colômbia - que lutam para o conseguir. Porque o sucesso continental dessa revolução pode criar as condições do sucesso à escala global.
Na Europa é preciso consciencializar os mais jovens, os intelectuais e os trabalhadores, para que se lancem numa contestação global às oligarquias. É preciso fazer com que partidos verdadeiramente revolucionários entrem nos parlamentos nacionais e europeu. O poder oligárquico é mais frágil do que se pensa. Uma vez abalado ruirá com facilidade. Para isso é preciso estabelecer alianças à escala europeia que permitam mobilizar os recursos necessários ao processo revolucionário. Pode durar décadas até que a revolução nova vença, mas o desastre económico que se adivinha só pode acelerar o processo. Se quisermos, será esta a última geração de oprimidos no nosso planeta.