domingo, 16 de setembro de 2007

Resposta a dois esquerdistas "soft"...

No Forum do PCTP/MRPP dois participantes - provavelmente próximos do PCP ou do BE - acharam por bem ironizar a respeito da minha colaboração com o PCTP/MRPP. Porque essa colaboração deve perturbar muita gente aproveitei para dar alguns esclarecimentos. Aqui está o que respondi:

"Como hoje é domingo e tenho alguns minutos, vou tentar explicar ao "Proletário" e ao "Anti-imperialista" o que atraiu um monárquico tradicionalista para uma colaboração com o PCTP/MRPP.

Os monárquicos tradicionalistas tendem a ver o Rei como a última barreira contra o domínio oligárquico. Como um ilustre ideólogo tradicionalista de finais do século XVIII afirmava, "o Rei era diferente para que todos os outros pudessem ser iguais".

Um monárquico tradicionalista tem como prioridade mais alta destruir a oligarquia e o seu poder, baseado no controlo da economia e da finança. No Portugal de hoje só o PCTP/MRPP demonstrou não ser aliciável pela oligarquia. Todas as outras forças de pseudo-esquerda - PCP, BE e PS - se curvaram diante do poder do dinheiro.

Os monárqicos tradicionalistas fazem uma opção pelos mais pobres e pelos oprimidos da sociedade, e recusam qualquer tolerância face à exclusão social, produto de um capitalismo neo-liberal globalizante. Os monárquicos tradicionalistas não se sentem ameaçados pelo anti-capitalismo militante do PCTP/MRPP. Antes pelo contrário, sentem que são eles os seus únicos aliados possíveis na luta contra a opressão do dinheiro. É óbvio que os monárquicos tradicionalistas não esperam ver um dia o PCTP/MRPP aclamar um Rei em Portugal, mas para nós a liberdade e a justiça são mais importantes do que a Monarquia. Se somos monárquicos é porque pensamos ser mais facil instaurar essa liberdade e essa justiça com um Rei, mas a Monarquia não é um fim, é um meio. Se pudermos promover os ideais de liberdade e de justiça numa colaboração com o PCTP/MRPP, fá-lo-emos sem qualquer preconceito.

E não se ache estranho que assim seja. Em Espanha os Carlistas ajudaram a criar a Esquerda Unida, e na Rússia monárquicos colaboram com comunistas. Mas é claro que isto é dificil de entender para quem vive do facciosismo e para o facciosismo..."

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O capitalismo e o síndroma de Estocolmo

O síndroma de Estocolmo é um estado psicológico em que uma vítima de maus tratos ou de rapto acaba por sentir simpatia e cumplicidade relativamente ao autor desses maus tratos. Os psicólogos explicam este comportamento como uma tentativa subconsciente da vítima de sobreviver no ambiente de violência gerado pelos responsáveis dos maus tratos. Receando ser vítima de maus tratos ainda maiores, a pessoa que manifesta sintomas do síndroma de Estocolmo procura aliar-se ao malfeitor para escapar à ameaça, acabando mesmo por partilhar dos seus objectivos e métodos.

No actual ambiente de capitalismo neo-liberal globalizante o que se verifica é uma minoria predadora a dominar de forma cada vez mais absoluta a maioria que tem de viver trabalhando por conta de outrém, tornando as relações laborais cada vez mais precárias, obrigando o trabalhador a trabalhar cada vez mais horas em condições cada vez piores e com remunerações cada vez mais baixas. Ao mesmo tempo o movimento sindical vai sendo progressivamente neutralizado, como consequência de uma capacidade crescente do capital se deslocalizar.

De forma algo surpreendente, quando se esperaria que os trabalhadores se lançassem num combate sem tréguas contra os seus opressores, o que se constata é os trabalhadores abdicarem de reagir face a essa violência crescente, optando por aderir à ideologia dominante numa tentativa para escapar à destruição que o sistema traz consigo. Numa típica atitude de síndroma de Estocolmo os trabalhadores aderem ao sistema que os maltrata, defendem a ideologia neo-liberal, afirmam com veemência que só o comércio livre e a globalização, num quadro produtivo capitalista, podem criar as condições de bem estar para todos. Sabendo no entanto que é o contrário que está a acontecer.

Aterrorizados, os trabalhadores recusam sindicalizar-se, aceitam a revogação das leis laborais feitas para os proteger, renunciam aos contratos colectivos, votam nos partidos que promovem a destruição do seu ambiente de trabalho, lêem a imprensa controlada pelos oligarcas, e acabam mesmo por ser cúmplices dos opressores na perseguição aos oprimidos.

Num ambiente generalizado de coacção e de cobardia, só a degradação crescente das condições de vida dos trabalhadores poderá um dia gerar uma reacção eficaz a este clima de terror laboral. Tudo terá de ficar muito pior antes que se possa esperar um dia mobilizar os trabalhadores contra os que os violentam. Até lá é no entanto necessário criar trincheiras de resistência para que, chegado o momento da reacção, ela possa encontrar os instrumentos ideológicos e logísticos que promovam o seu sucesso.