segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O capitalismo e o síndroma de Estocolmo

O síndroma de Estocolmo é um estado psicológico em que uma vítima de maus tratos ou de rapto acaba por sentir simpatia e cumplicidade relativamente ao autor desses maus tratos. Os psicólogos explicam este comportamento como uma tentativa subconsciente da vítima de sobreviver no ambiente de violência gerado pelos responsáveis dos maus tratos. Receando ser vítima de maus tratos ainda maiores, a pessoa que manifesta sintomas do síndroma de Estocolmo procura aliar-se ao malfeitor para escapar à ameaça, acabando mesmo por partilhar dos seus objectivos e métodos.

No actual ambiente de capitalismo neo-liberal globalizante o que se verifica é uma minoria predadora a dominar de forma cada vez mais absoluta a maioria que tem de viver trabalhando por conta de outrém, tornando as relações laborais cada vez mais precárias, obrigando o trabalhador a trabalhar cada vez mais horas em condições cada vez piores e com remunerações cada vez mais baixas. Ao mesmo tempo o movimento sindical vai sendo progressivamente neutralizado, como consequência de uma capacidade crescente do capital se deslocalizar.

De forma algo surpreendente, quando se esperaria que os trabalhadores se lançassem num combate sem tréguas contra os seus opressores, o que se constata é os trabalhadores abdicarem de reagir face a essa violência crescente, optando por aderir à ideologia dominante numa tentativa para escapar à destruição que o sistema traz consigo. Numa típica atitude de síndroma de Estocolmo os trabalhadores aderem ao sistema que os maltrata, defendem a ideologia neo-liberal, afirmam com veemência que só o comércio livre e a globalização, num quadro produtivo capitalista, podem criar as condições de bem estar para todos. Sabendo no entanto que é o contrário que está a acontecer.

Aterrorizados, os trabalhadores recusam sindicalizar-se, aceitam a revogação das leis laborais feitas para os proteger, renunciam aos contratos colectivos, votam nos partidos que promovem a destruição do seu ambiente de trabalho, lêem a imprensa controlada pelos oligarcas, e acabam mesmo por ser cúmplices dos opressores na perseguição aos oprimidos.

Num ambiente generalizado de coacção e de cobardia, só a degradação crescente das condições de vida dos trabalhadores poderá um dia gerar uma reacção eficaz a este clima de terror laboral. Tudo terá de ficar muito pior antes que se possa esperar um dia mobilizar os trabalhadores contra os que os violentam. Até lá é no entanto necessário criar trincheiras de resistência para que, chegado o momento da reacção, ela possa encontrar os instrumentos ideológicos e logísticos que promovam o seu sucesso.

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