segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Apresentação


Blogues
há muitos. Blogues monárquicos de esquerda...radical, é natural que não haja nenhum. Porquê então esta bizarria? Vou tentar explicar:

Ao longo dos anos que já tenho - e já não são tão poucos como isso - fui-me apercebendo de que vivíamos num mundo disfuncional, com um sistema de vida não menos disfuncional. Perdeu-se o sentido de comunidade, perdeu-se o valor da solidariedade, perdeu-se o sentido da ética. Em nome de uma pseudo-liberdade e da eficiência desumanizámo-nos, adoptámos a lei da selva como norma, em que os mais fortes, mais agressivos, menos escrupulosos, prevalecem. "Ter" tornou-se muito mais importante do que "Ser", e já não se olha a meios para alcançar os objectivos materiais que nos obcecam. Os mais fortes abusam dos mais fracos, o poder político deitou pela janela fora o princípio do "bem comum", enveredando pela opressão e pela extorsão pura e simples, quem estuda ou investiga plagia, quem tem quer ter mais, quem não tem ou rouba ou definha...

O neo-liberalismo galopante, na sua versão mais globalizada, destruiu todos os valores, com excepção dos valores monetários. Na ânsia de produzir cada vez mais, agride-se o planeta, destroem-se os equilíbrios ecológicos, polui-se, destroem-se os recursos não renováveis num total desprezo pelas gerações futuras. Sem dar por isso estamos a deslizar de forma segura para a situação que conhecemos no século XIX, em que a fortuna de poucos se fazia à custa da miséria de muitos.

A globalização e uma liberdade de comércio fundamentalista, ao abrir a porta à deslocalização dos meios de produção, destruíram o movimento sindical e lançam um número crescente de pessoas na exclusão social. As relações laborais são cada vez mais precárias, quem não é rico ou não pertence aos órgãos da oligarquia enfrenta carências crescentes e uma incapacidade crescente para fazer face às suas necessidades mais fundamentais.

Face a isto a chamada "direita" não só não tem resposta como nem acha que uma resposta seja necessária. Apesar dos apelos repetidos da Igreja no sentido de se acautelarem os direitos dos mais pobres, essa direita conservadora, que gosta de se intitular de cristã mas sacrifica ao deus do dinheiro, fecha sistematicamente os olhos ao escândalo da pobreza crescente, garantindo-nos com toda a hipocrisia de que é capaz, de que o capitalismo selvagem acabará por dar a todos o benefício de uma sociedade patologicamente consumista.

A "esquerda" titubeia. Até porque hoje muitos do que se intitulam de esquerda são irmãos siameses do pior que a direita produz. Corrompidos pelo dinheiro da oligarquia nacional e internacional, os políticos da falsa esquerda são hoje tão culpados como a pior direita do que nos vai acontecendo. É preciso uma nova esquerda que regresse aos valores de esquerda, que - mesmo quando não é cristã - compreenda a mensagem da Doutrina Social da Igreja, que faça uma opção clara pelos pobres, que se proponha destruir todos os instrumentos da opressão oligárquica.

É preciso, salvaguardando o que de válido tem o mercado, substituir a empresa capitalista pela empresa cooperativa e pela auto-gestão dos que trabalham. É preciso penalizar a especulação financeira, introduzindo finalmente uma taxa Tobin sobre todas essas transacções, que permita financiar o estado social. É preciso rapidamente substituir as fontes não renováveis de energia por energias renováveis, e muito especialmente o hidrogénio, mesmo que os seus custos sejam temporariamente mais altos. É preciso instituir um sistema de economia social - dirigido a responder às muitas necessidades sociais pelas quais o sector privado se não interessa - de forma a, simultaneamente, responder a essas necessidades e garantir funções remuneradas a quem não consegue inserir-se no sector produtivo. É preciso garantir a educação, os cuidados de saúde e a reforma - a níveis compatíveis com a dignidade humana - a todos.

Finalmente, é preciso estabelecer um sistema político capaz de resistir com eficácia ao assalto permanente da oligarquia. Uma Monarquia temperada pela participação da comunidade, com um Rei com os poderes necessários a impedir o assalto da oligarquia aos órgãos do poder político, é a resposta possível ao sistema corrupto e anti-democrático que vigora por esse mundo fora.

Neste Blogue lançarei as minhas ideias sobre estas questões, e acolherei a participação de todos os que, de forma digna e elevada, quiserem ajudar nesta reflexão.

Nuno Cardoso da Silva

5 comentários:

Pedro Reis disse...

Os meus parabéns pela iniciativa e pelo dinamismo que, na sua idade, são apenas demonstrativos da sua juventude de carácter.

Os melhores cumprimentos.

Pedro

IzNoGuud disse...

Mais uma vez, encontramos o Prof. Nuno Cardoso da Silva na vanguarda da divulgação de que é hoje ser-se Monárquico, procurando desmistificar conceitos ultrapassados e apresentar a todos o quanto ainda há para fazer sob uma visão marcada pelo seu cunho pessoal.

A defesa de uma Monarquia mais à esquerda.

Um bem haja pela iniciativa.

IzNoGuud

LMG disse...

Iznoguud,

A grande vantagem da Monarquia é exactamente conseguir abranger e conciliar esquerdas e direitas. «Monarquia mais à esquerda» é um contrasenso, pois mono-arquia indica exactamente a construção de um arco entre pontos opostos. Defendamos uma monarquia de equilíbrio e não algo tentativamente tendencioso.

Para o SESMARIAS, boa sorte.

tomaz gomes disse...

Prof. Nuno Cardoso da Silva

Tinha-o na conta de uma pessoa séria, mas após a leitura da mensagem que escreveu tenho que reformular a minha opinião !

O senhor, à semelhança de tantos outros miguelistas, não é capaz de admitir que vivemos numa democracia (!), e é mais que justo que se permita a cada um a liberdade de pensamento ! Liberdade consagrada na nossa constituição republicana.

Mas é obrigatório que cada indivíduo tenha que pensar igual a si? Agora compreendo as razões pelas quais abandonei o PPM ! Faça por ser mais modesto, e fazer uso de uma linguagem menos vulgar, e mais incisiva. Só mesmo em nome da boa conduta !

Cumprimentos.

Nuno Cardoso da Silva disse...

Comentar implica, primeiro que tudo, compreender aquilo que se comenta. Receio que Tomaz Gomes não tenha percebido aquilo que tenho vindo a escrever, pelo que agora sou eu que não percebo o seu comentário. E muito menos a referência a "uma linguagem menos vulgar"... Calculo que o defeito seja meu...